quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Esparadrapo

O rapaz observou as águas ferozes e barulhentas abaixo de si, olhou para o céu e perguntou-se qual seria o motivo de tamanhas complicações. Pediu por um Deus, ironia pura – justo ele, o ateu-mor, pedindo por um Deus. Pensou na quantidade de pessoas que naquele exato momento estariam passando pelas mesmas complicações que ele, e perguntou-se se elas estariam pedindo por um Deus. Perguntou-se o porquê das pessoas pedirem por um Deus durante as suas complicações. E se Ele atendesse? Milagre ou coincidência? Pensou em Charlotte e no quanto ela choraria (ela choraria?) quando os policiais batessem à sua porta no dia seguinte, bem cedo, com aquela cara fúnebre, coçando suas cabeças, desconcertados, como mandava o protocolo. “Nós sentimos muito”, eles diriam, então dariam as costas e iriam embora para as suas casas, brincar com seus filhos e amar suas esposas, porque eles não tinham nada a ver com aquilo. O máximo que eles poderiam comentar sobre tudo aquilo era como aquele corpo era pesado, e caso falassem mais, falariam que aquele rapaz só queria o seu Deus na hora em que ele mais precisava.

2 comentários:

Anônimo disse...

Poderia jurar quen eu já vi alguem escrever dessa exata maneira antes.Não seria possível.Ou seria?

Anônimo disse...

Eu fiquei em dúvida entre escrever "Que horror ._." ou "Que legal *-*"


Mas acho que "Que foda" é mais apropriado xD